Por Emarielle Pardal
Todos sabemos da importância da Amazônia para o nosso planeta. Porém sua relevância não se restringe a maior biodiversidade vegetal e à abundância aquífera do maior rio do mundo. A região Amazônica apresenta outras qualidades, que por vezes não são lembradas, ou até mesmo desconhecidas. Enxergar que, além do rio e da floresta amazônica, nós também somos influenciados pelo oceano, é o objetivo do texto de hoje.
A zona costeira é uma zona de transição entre os ambientes terrestres e marinhos. Por sua vez, a Zona Costeira Amazônica Brasileira (ZCAB) possui 2.250 km de extensão, compreende os estados do Amapá, Pará e Maranhão, e estende-se do Cabo Orange no Amapá (5°N,51°W) até a Ponta do Tubarão, no Maranhão (4°S,43°W). Configura um extenso sistema de troca entre o rio Amazonas e o oceano Atlântico, com uma sequência de reentrâncias e grande diversidade de ambientes: planícies costeiras, praias, ilhas costeiras, estuários e o maior cinturão de florestas de manguezais, os quais funcionam como berçários de várias espécies e sustentam numerosas comunidades tradicionais. Além disso, 20% de toda a água doce do planeta e 18% de todos os sedimentos finos, adicionado a todo material em suspensão que chegam ao leito do rio, são despejados no oceano. Por sua vez, a água doce, misturada aos sedimentos, desloca-se em direção a Noroeste e, através das correntes oceânicas, pode alcançar até a Venezuela, possuindo grande influência e distribuição transfronteiriça de seus recursos pesqueiros. Todos esses atributos da zona costeira, somados à importância da floresta e do rio, tornam a região amazônica um sistema único em todo o planeta.
Na perspectiva de promover a cultura oceânica e dar visibilidade ao nosso “Mar Amazônico” dentro e fora da Amazônia, pesquisadores das Instituições de Ensino e Pesquisa do estado do Amapá, no extremo norte do Brasil, enxergam a necessidade de difundir discussões sobre o “Oceano amazônico”.
Neste contexto, a III Semana da Década do Oceano no Amapá (III DO AP) realizou sua 3ª edição, neste ano de 2023, atingindo um público de aproximadamente duas mil pessoas. A III DO AP foi composta por vários momentos: pré-divulgação para a comunidade, workshop temático, exposição de trabalhos e de equipamentos utilizados por cientistas do mar, espaço “Geração Oceano” voltados para as crianças, mostra científica da Coleção didática de Lixo Marinho encontrados na região, 1º Campeonato de Futlama (Esporte similar ao futebol, praticado as margens do rio amazonas, durante a maré baixa) e Sarau da Cultura oceânica (Foto abaixo).
Essas ações têm o objetivo de promover debates sobre temas relevantes para o desenvolvimento costeiro no estado, na Amazônia e no “oceano amazônico”, envolvendo a comunidade de forma geral. As ações da Década no estado do Amapá tiveram início em 2021 e carregam o lema “Amapá vem pro Mar!” em uma tentativa incansável para promoção da Cultura Oceânica na foz do rio Amazonas. A ideia é levar a seguinte mensagem a todos os amazônidas: além do rio e da floresta amazônica, nós também somos oceano e que o oceano influencia em nossas vidas tanto quanto nós influenciamos na saúde do oceano
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Já foram realizados três eventos, cujas discussões fazem parte da comemoração do Dia mundial dos Oceanos (celebrado todo dia 8 de junho), e do calendário do Grupo de Apoio à Mobilização para a Década – GAM-NO. Neste ano de 2023, a DO AP recebeu o apoio do Observatório Popular do Mar - OMARA (@omara_obs), que tornou-se parceiro na realização desta ação. Você pode acessar todos os eventos aqui (https://www.youtube.com/watch?v=J9U9MXr6_F4; https://www.youtube.com/watch?v=fKIQQ1f-XNQ&list=PLZDKWZ9ynhkaD4FEQW4fb-xr89O52csET e https://www.youtube.com/watch?v=7QnbxOQ7FPc&t=7704s).
Sabendo da necessidade de “apresentar” nosso mar amazônico aos ribeirinhos e comunidades tradicionais que aqui moram, bem como da necessidade de dar mais visibilidade ao extremo norte do país, estamos executando alguns projetos que visam incluir a população ribeirinha na temática. O OMARA (Processo CNPq 409795/2022-4), mencionado anteriormente, é uma iniciativa para construção do conhecimento de modo coletivo, participativo e transparente, com o intuito de contribuir na tomada de decisão para redução dos impactos das mudanças climáticas na região costeira amazônica. O Observatório do Lixo Antropogênico Marinho - OLAMAR (Processo CNPq 405439/2022-9) por sua vez, é uma estratégia para o diagnóstico e ações de educação ambiental na costa amazônica brasileira, incluindo os estados do Amapá, Pará e Maranhão, o qual visa a implementação de um Big Data sobre o Lixo Antropogênico Marinho – LAM, em toda a costa amazônica, envolvendo a avaliação da pesca fantasma e dos impactos por microplástico na água, no sedimento, na fauna marinha e no contexto social.
Fortalecendo essa mobilização, o Amapá associou-se à Rede Oceano Limpo, criando um grupo de mobilização no estado (Rede Oceano Limpo Amapá) ainda em fase inicial, mas que já pode ser visto como um reflexo da promoção do nosso “Mar Amazônico”. A Rede Oceano Limpo Amapá surgiu da necessidade de consolidar um grupo no estado para pensar e elaborar estratégias para monitorar o problema do lixo pensando nas condições e nos fatores regionais. Preambular, está em busca de sensibilizar os atores sociais para criar processos participativos de governança baseados em ciência. Um passo muito importante para a Rede- AP ocorreu na III DO AP, em que foi assinada uma Carta Compromisso por pesquisadores, docentes, discentes e organizações da sociedade civil que atuam, direta ou indiretamente, com a problemática do lixo no mar amazônico (Você pode acompanhar aqui https://www.youtube.com/watch?v=1G1GsXg2SA8 ).
Estamos vivenciando um momento em que, mais do que nunca, os holofotes estão totalmente voltados para nossa região, devido à confirmação de que uma cidade amazônica irá sediar o mais importante evento internacional sobre o clima: a 30ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima-COP30 que ocorrerá em novembro de 2025, na cidade de Belém do Pará. Esse evento reúne, anualmente, representantes de todos os países que fazem parte da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima - UNFCCC, no intuito de avaliar os esforços globais para fazer avançar o principal objetivo do Acordo de Paris: limitar o aquecimento global. Diante do contexto apresentado aqui, é notório que a importância da Amazônia é mundialmente reconhecida, no entanto, a questão persiste: Será que a COP-30 mostrará as diferentes facetas da Amazônia? Será que estamos diante da oportunidade para dar (e expandir) a visibilidade mundial do nosso Mar amazônico? A gente espera que sim!
Referências
A Zona Costeira Amazônica. Museu Paraense Emílio Goeldi/ O Museu na Amazônia. Disponível em: <http://pec.museu-goeldi.br/index.php?option=com_content&view=article&id=30:zona-costeria-amazonica&catid=1:biblioteca-virtual&Itemid=4>; Acesso em 22 de setembro de 2023.
Conference of the Parties (COP). United Natios/ Climate Change. Disponível em: <https://unfccc.int/process/bodies/supreme-bodies/conference-of-the-parties-cop>; Acesso em 19 de setembro de 2023.
El Acuerdo de París?. United Natios/ Climate Change. Disponível em: <https://unfccc.int/es/acerca-de-las-ndc/el-acuerdo-de-paris>; Acesso em 20 de setembro de 2023.
KAMAL, Medhat M. Petroleum++: Should SPE Be Part of the Conference of the Parties (COP) 28?. Journal of Petroleum Technology, v. 75, n. 07, p. 4-9, 2023.
ONU confirma Belém (PA) como sede da COP-30, a conferência para o clima. Planalto. 25 de maio de 2023. Disponível em: <https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2023/05/onu-confirma-belem-pa-como-sede-da-cop-30-conferencia-para-o-clima>; Acesso em 22 de setembro de 2023.
Santos, V. F dos. Ecossistemas costeiros amazônicos: avaliação de modificações ambientais por sensoriamento remoto. 2006. Tese (Doutorado em DINÂMICA DOS OCEANOS E DA TERRA) - Universidade Federal Fluminense.
Souza Fo., P. W. M.; Cunha, E. R. S. P. da; Sales, M. E. da C.; Souza, L. F. M. O; Costa, F. R. da. (Org.). Bibliografia da Zona Costeira Amazônica. Belém: MPEG, 2005.
Sobre a autora:
Emarielle Pardal é mãe de gêmeas (Eva e Luê), com 36 anos de muitos banhos de igarapés na rica Amazônia brasileira, nasceu em Santa Maria do Pará e desde cedo viu nos estudos a única saída para uma realidade diferente daquela que cresceu. Em toda sua vida estudou em escola pública, se formou bióloga e mestre em biologia ambiental pela Universidade Federal do Pará, onde agarrou a oportunidade de fazer seu doutorado em Geociências em terras nordestinas, na Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente, depois de uma trajetória de 16 anos entre pesquisa e docência, está desenvolvendo trabalhos com ênfase em poluição plástica, no Instituto de Pesquisas Cientificas e Tecnológicas do Estado do Amapá-IEPA, às margens do grandioso rio Amazonas.
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