Jogos Olímpicos de Tokio 2021
Quando a presidência do Comitê Organizador Olímpico de Tokio foi dada a uma mulher, a ex-atleta Seiko Hashimoto, depois que seu antecessor renunciou por ter feito comentários sexistas, já dava pra sentir que esta seria uma edição conectada com a nova era e a força feminina.
A igualdade de gênero era uma meta do Comitê Olímpico Internacional (COI), seja pelos porta-bandeiras na abertura representados por uma mulher e um homem ou com a maioria de atletas femininas com 51%. Mas nem os analistas mais experientes imaginavam que teríamos tantas evidências desta representatividade em Tóquio, porque presenciamos muito mais do que números.
No Brasil, vimos a primeira ginasta brasileira medalhista olímpica, com sua história de luta e superação. Filha de mãe solo, 3 cirurgias antes dos 22 anos, saindo da periferia de São Paulo para a história do nosso país em um dos esportes mais icônicos dos jogos. E quem a parabenizou? Ninguém menos do que Nadia Comaneci. Vimos também a primeira medalha do tênis feminino com a dupla Luisa Stefani e Laura Pigossi. E quem não se encantou com a fadinha, que aos 13 anos brilhou com a prata no peito na 1ª edição do skate como esporte Olímpico. Entre outras grandes histórias e medalhas...
Mas estamos falando de muito mais que subidas ao pódio. As ginastas alemãs, por exemplo, usaram macacões inteiros na etapa qualificatória de Tóquio, se posicionando contra a sexualização da modalidade. A BBC fez uma matéria discutindo como o sexismo se reflete no controle do uso dos uniformes femininos. E foi grande a repercussão, durante o campeonato europeu de handebol, em julho de 2021, em que as atletas norueguesas se recusaram a usar biquínis como uniformes de jogo e foram multadas pela federação. A cantora Pink se colocou à disposição para pagar a multa para as jogadoras que usaram shorts nos jogos, mostrando que sensibilidade, união e a força das mulheres são capazes de derrubar barreiras até então inimagináveis.
Ano passado, tive oportunidade de fazer parte de uma campanha muito especial da Liga que demostrava exatamente estas características. “A gente liga para o oceano” foi o manifesto que reuniu cerca de 50 atletas mulheres de diferentes modalidades, mas todas com uma profunda conexão com o oceano. Foi um grande movimento propagador para levantar a discussão sobre a urgência de ações pela proteção do oceano, por conta do crescimento do uso de plástico durante a pandemia, o constante descarte irregular de artefatos e todos os impactos que fazem nosso planeta pedir socorro. Entre as participantes da campanha, as nossas medalhistas de ouro Martine Grael e Kahena Kunze que se uniram a atletas de outras modalidades que também tem o mar como “casa”.
Voltando aos jogos de 2021, até o que poderia significar uma fragilidade, quando Simone Biles surpreendeu a todos por não participar de algumas das finais da ginástica por priorizar sua saúde mental, na realidade mostrou muita coragem e força descomunal ao retomar as rédeas da sua vida. E não apenas atender as expectativas externas que se espera de um fenômeno como ela. Nunca uma edição foi tão marcante com o papel feminino e é impossível não pensar nesta conexão com o que a Liga representa. Como atleta penso que o esporte é transformador, como mulher nunca duvidei da nossa potência e como membro da Liga, tenho a certeza de que estamos no caminho certo!
Roberta Borsari é aventureira com mais de 20 anos de experiência em esportes a remo e idealizadora do projeto SUPtravessias. Com perfil desbravador, está entre as pioneiras no Brasil em modalidades como rafting, canoa havaiana, corredeiras, kayaksurf e SUP. Sua carreira é composta por títulos, expedições, palestras, artigos e feitos nacionais e internacionais. Como amante e protetora do oceano, faz parte do conselho da Liga das Mulheres pelo Oceano.
Comments