top of page
Foto do escritorColaboradoras da Liga

Cação é tubarão - e eles estão em risco!

Por:

Gabriella Rocha Pegorin

Nutricionista CRN-3 58758

Mestre em Ciências


A sobrepesca tem colocado em risco a população de tubarões e raias.


Sobrepesca é um termo utilizado quando uma espécie é pescada além de sua capacidade de reprodução.


Segundo o Professor Otto Bismark Fazzano Gadig da Universidade Estadual Paulista que soma mais de 30 anos de expertise acadêmica em eslamobrânquios (tubarões e raias), esses animais têm uma atividade reprodutiva diferente de peixes ósseos. Apresentam um tempo de vida mais longo, a maturidade sexual é relativamente tardia e costumam ter um filhote a cada 2 anos. Dessa forma, a tentativa de preservação dessas espécies é frágil em um cenário em que cerca de 100 milhões de indivíduos são mortos todos os anos e cerca de 36% das 1200 espécies identificadas de tubarões e raias encontram-se em risco de extinção de acordo com um relatório publicado pela ONG World Wide Fund for Nature (WWF) em 2021.


O valor total do comércio de tubarões e raias no período 2012-2019 ultrapassa US$4,1 bilhões. O valor da carne de tubarão e arraia combinados (US$2,6 bilhões) excedem o valor das barbatanas de tubarão (US$1,5 bilhão).


Neste domingo, 27 de agosto de 2023, a Folha de São Paulo publicou uma matéria sobre uma visita realizada em maio no maior mercado da Amazônia (Ver-o-Peso) onde identificaram a comercialização de várias espécies de cação.


Embora grande parte da população não consiga identificar cação como tubarão. O termo “cação”, na verdade, vem do “cazón” em Espanhol e é utilizado com frequência para nomear a carne de várias espécies de tubarões e raias comercializados em mercados de pescados.

Durante a visita ao mercado Ver-o-Peso em Belém, os jornalistas enviaram para análise 11 amostras de carne de cação e identificaram pelo menos 9 espécies criticamente ameaçadas de extinção de acordo com a avaliação de risco de extinção de fauna do ICMBio. Entre as espécies identificadas encontravam-se o tubarão-martelo (Sphyrna), tubarão mako (Isurus oxyrinchus) e cação-azeiteiro (Carcharhinus porosus), este último é utilizado com frequência no preparo de pratos típicos como a moqueca de cação, por exemplo.


No mercado mundial não somente a barbatana de tubarão é de importante valor comercial, mas também a carne que pode ser comercializada fresca ou congelada. A Espanha dominou o mercado global de carne de tubarões e raias e aparece entre os três principais comerciantes na análise de valor, volume e número de parceiros comerciais. O Brasil aparece como um dos principais exportadores para a Coreia do Sul, assim como a Argentina e os EUA.


Tubarões são realmente uma ameaça para a população humana? Não!


A indústria cinematográfica de Hollywood atribuiu aos tubarões uma fama de assassina e monstruosa completamente distorcida da realidade. Os tubarões são predadores importantes para manter o equilíbrio da cadeia alimentar marinha, controle de população de outras espécies e garantem um ecossistema saudável.


Ao contrário do que se pensa no senso comum, nós não fazemos parte da dieta de tubarões. Poucas espécies como tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier) e tubarão-branco (Carcharodon carcharias) incluem mamíferos em sua dieta como as focas, por exemplo. Mas de modo geral, os tubarões se alimentam de peixes, aves, tartarugas e até plânctons. O maior tubarão do mundo - tubarão-baleia (Rhincodon typus), que pode chegar até 18 metros de comprimento, tem uma característica de alimentação por filtração de plânctons, peixes e moluscos pequenos.


Incidentes com tubarões podem acontecer por diversas razões como desequilíbrio ambiental por aumento da atividade pesqueira ou poluição - o que dificulta os hábitos de alimentação do animal, bem como tentativa de identificação em águas turvas ou comportamento de defesa.


Contudo, os números de incidentes com tubarões anualmente são baixos, em 2022 o número de incidentes foi de 57 com apenas 5 mortes.


Uma curiosidade interessante é que o Museu da Florida apresenta um quadro no departamento de estatística comparando o número de mordidas de diversos animais e humanos em humanos na cidade de Nova York nos anos de 1981 a 1987. No ano de 1987, um total de 1587 nova yorkinos foram mordidos pelos próprios nova yorkinos, contudo, no mesmo ano, somente 13 nova yorkinos foram mordidos por tubarões.


No ponto de vista da saúde…


Do ponto de vista da saúde, os pescados são conhecidos por representar fontes de proteína, um nutriente importante para a saúde humana e ômega-3, este último se encontra principalmente em salmão, atum e sardinha.


Mas será que precisamos comer tubarões e raias? Não, uma vez que é possível encontrar todos os nutrientes que precisamos em outras fontes alimentares.


Outro motivo para não consumir esses animais é a bioacumulação. Tubarões são bioacumuladores por nível trófico, ou seja, como são predadores do topo da cadeia alimentar são capazes de acumular os metais pesados e outros poluentes distribuídos ao longo da cadeia.


Além de contribuir com a redução da população de espécies de tubarões e raias, o consumo frequente desses animais também pode levar ao consumo de metais pesados como o mercúrio e outros poluentes como microplásticos.


As funções das proteínas no corpo humano são diversas, elas apresentam função estrutural, ou seja, constituem estruturas celulares importantes ou conferem resistência e elasticidade a órgãos e tecidos, como o colágeno e a elastina, por exemplo. As proteínas também apresentam funções hormonais através de hormônios de natureza proteica. Além disso, há proteínas que regulam a expressão de genes, que atuam na nossa defesa imunológica, que transportam oxigênio para nossos tecidos, que atuam na contração dos nossos músculos e que atuam como enzimas nas reações químicas do nosso metabolismo.

Além dos pescados, carnes, aves e ovos também são fontes importantes de proteína animal. Mas além delas há fontes alternativas de proteínas de origem vegetal como a combinação de cereais e leguminosas. Embora as leguminosas apresentam maior concentração de proteína por volume de alimento, tanto elas quanto os cereais apresentam aminoácidos limitantes, sendo assim, é fundamental unir esses dois grupos de alimentos buscando uma proteína completa. Um exemplo de combinação entre esses dois grupos é a união do arroz (um cereal) com o feijão (uma leguminosa).


Os cereais, como o arroz, a aveia, o trigo, a cevada, o centeio, o milho, etc são pobres em lisina, mas apresenta boas quantidades de metionina, em contrapartida, as leguminosas como o feijão, a lentilha, o grão-de-bico, a soja, etc são deficientes em metionina, mas apresenta boas quantidades de lisina, juntos eles se completam.


Fazendo uma analogia, as proteínas são como as paredes de uma construção. Para levantar a parede você precisará dos tijolos e de argamassa para assentá-los. As proteínas são moléculas grandes formadas a partir de cadeias de aminoácidos (os tijolos) e ligações peptídicas (a argamassa).


Uma proteína de excelente qualidade ou chamada de “alto valor biológico” deve apresentar quantidades necessárias de aminoácidos essenciais que serão necessários para manutenção da vida.


Sendo assim, os vegetais são fontes alternativas importantes de nutrientes para quem deseja adotar uma dieta livre de alimentos de origem animal.


Segunda sem carne


Se você não consegue aderir uma dieta totalmente vegetariana, você pode contribuir com a redução da emissão de cerca de 11kg de CO2 na atmosfera e economia de 60L de água aderindo a Segunda sem carne.


A segunda sem carne é uma campanha global que consiste na adoção de uma dieta somente à base de plantas na segunda-feira. O cálculo de redução de emissão de CO2 e economia de água se dá através do uso de recursos naturais para produzir 38g de ovos, 290g de carnes de origem animal de modo geral e 450ml de leites.


Tradição e cultura sem utilizar pescados: moqueca de banana da terra.


Se você é fã de moqueca e não quer deixar de consumir o prato, pode substituir por algum peixe que esteja fora do período de defeso e fresco da sua região ou pela banana da terra.

Essa receita da Rita Lobo já foi testada e aprovada por esta que vos escreve:


INGREDIENTES
  • 3 bananas-da-terra maduras mas ainda firmes

  • 2 tomates maduros

  • 1 pimentão verde

  • 1 pimentão vermelho

  • 1 cebola

  • 3 dentes de alho

  • ¾ de xícara (chá) de leite de coco (200 ml)

  • 2 xícaras (chá) de água

  • ¼ de xícara (chá) de azeite de dendê

  • 2 colheres (sopa) de azeite

  • 10 ramos de coentro (talos e folhas)

  • 2 raízes de coentro

  • 2 pimentas dedo-de-moça

  • 2 pimentas-de-cheiro

  • 1 tira de casca de limão-taiti

  • sal a gosto

MODO DE PREPARO
  • Lave e seque os pimentões, os tomates, as pimentas e o coentro (mantenha as raízes e talos).

  • Corte os pimentões ao meio, descarte as sementes e corte cada metade em quadrados de 2 cm. Corte os tomates em quartos, descarte as sementes e corte cada quarto ao meio na diagonal. Descasque e corte a cebola em cubos de 2 cm.

  • Descasque e pique fino os dentes de alho. Pique fino as raízes e os talos do coentro e reserve as folhas inteiras para a finalização.

  • Corte as pimentas dedo-de-moça e de cheiro ao meio, com uma colher, raspe e descarte as sementes. Pique fino as metades. Dica: para evitar acidentes com dedos apimentados nos olhos, passe óleo ou azeite nas mãos depois de cortar as pimentas — a capsaicina, substância responsável pelo ardor, é lipossolúvel. Depois, lave as mãos.

  • Leve uma panela de barro média (ou uma panela média de outro material) ao fogo médio para aquecer. Regue com 1 colher (sopa) de azeite, adicione as pimentas, o alho, as raízes e talos do coentro e tempere com uma pitada de sal. Refogue por cerca de 3 minutos, até ficar bem perfumado. Acrescente a água, a casca de limão e misture bem. Assim que ferver, abaixe o fogo e deixe cozinhar por 5 minutos para formar um caldo saboroso.

  • Desligue o fogo e descarte a casca de limão. Com uma concha, transfira o caldo para o liquidificador, adicione o azeite de dendê, o leite de coco, 2 colheres (chá) de sal e bata por 2 minutos até ficar bem emulsionado – assim o caldo da moqueca fica mais aveludado e a gordura do dendê e do coco não se separam no cozimento. Atenção: segure firme a tampa do liquidificador com um pano de prato para evitar que o vapor quente ejete a tampa. No total você terá 2 ¾ xícaras (chá) de líquido para cozinhar a moqueca, se necessário complete com um pouco de água.

  • Volte a panela ao fogo médio (nem precisa lavar), regue com 1 colher (sopa) de azeite, adicione os pimentões, a cebola e tempere com uma pitada de sal. Refogue por cerca de 4 minutos, ou até os legumes ficarem macios e a cebola transparente.

  • Enquanto isso, com uma faca corte as pontas e descasque as bananas. Corte cada banana em rodelas de 2 cm de espessura, na diagonal.

  • Acrescente as bananas e os tomates ao refogado e misture delicadamente. Junte o caldo batido, tampe a panela, abaixe o fogo e deixe cozinhar por cerca de 15 minutos ou até a banana ficar cozida mas ainda com textura para mordida. Finalize com as folhas de coentro e sirva a seguir.


Mensagem final


A economia pesqueira em pequenas cidades e povoados é uma forma de subsistência das populações, principalmente da população e cultura caiçara. Mas precisamos urgentemente de medidas educativas para alertar a população sobre a preservação da biodiversidade, reforçar as diretrizes do defeso e da legislação que proíbe a pesca de pelo menos 54 espécies de tubarões e raias ameaçados de extinção no Brasil.


Não precisamos nos nutrir através desses animais, considerando a riqueza e diversidade de alimentos presentes no nosso país. É possível reinventar e utilizar outros alimentos da nossa biodiversidade para compor pratos típicos.


Links e referências:


217 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo

© 2024 Liga das Mulheres pelo Oceano

  • instagram
  • facebook
bottom of page