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  • Foto do escritorNatalia Grilli

As Olimpíadas na Era das Mudanças Climáticas

Por Renata Pelegrini


“No fim tudo dá certo ...

... e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim.”

 

Esse pensamento é de um nadador brasileiro, recordista sul-americano de nado de Costas, em 1939. Fernando Sabino, saudoso escritor mineiro, parece que entendia de água e das crônicas que observava no dia-a-dia. Um pé no oceano e olhos bem abertos para o desenrolar dos fatos; é assim que esta resenha quer se apresentar para falar das Olimpíadas de 2024.

 

Reconhecer a importância de um evento do alcance das Olimpíadas, é perceber o momento e o lugar para abordar pautas ecológicas e ser exemplo para todos que participam de diversas formas do espetáculo.

 

A medalha de ouro desses e de todos os jogos Olímpicos têm destino garantido porque ‘dá sempre certo’, concordaria Fernando Sabino. O ouro vai para os esportistas, 70% corpos de água, independentemente da nacionalidade, modalidade esportiva e do gênero. Nos jogos, o suor por cada batalha é a moeda comum que evidencia aos atletas que todos estão ali por uma paixão pelo desafio do esporte, e não exatamente por ser contra quem compete pelo outro país. Todos são (somos), igualmente, corpos de água.

 

O ouro também vai para a mãe-natureza, Gaia, que se faz cada vez mais ruidosa e estridente; e marcadamente quente nessa 33ª edição dos jogos. Os 40 graus Celsius que a vila olímpica teve que suportar, confrontou o projeto dos alojamentos naturalmente frescos projetados para os esportistas. Flagrar o nadador italiano Thomas Ceccon, campeão de 100m costas, dormindo na grama da vila olímpica, e as várias delegações providenciando equipamentos de ar-condicionado foi um gongo, não só para a organização do evento, mas para nós todos que fazemos o clima do nosso planeta ser o que é.

 

A Prata vai para as dezessete novas organizações esportivas que aderiram recentemente ao Sports for Nature Framework, lançado em 2022, comprometendo-se a proteger e melhorar o mundo natural com metas. A nova filiação foi celebrada em um evento realizado durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024, e elevou o número total de signatários do Framework para 76, no qual está incluído também o Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Segundo declarações do próprio comitê, o esporte depende do mundo natural e tem a responsabilidade de protegê-lo. Por meio desse mecanismo, querem garantir que as organizações esportivas tenham as ferramentas e o suporte certos para agir pela sustentabilidade, diz Marie Sallois, Diretora do Comitê Olímpico Internacional para Sustentabilidade.

 

O Bronze fica com Georgina Grenon, Diretora de Excelência Ambiental dessa Olimpíada, que declarou que os jogos olímpicos entregaram mais com menos, enquanto deixam um legado duradouro: “foi um laboratório e um trampolim para a inovação”. E para retomar o nosso recordista escritor mineiro, por isso, ainda não deu totalmente certo.

 

Entre os desclassificados, o rio que não estava pra peixe (e nem pra gente-peixe). Fortemente desejada pelas autoridades francesas como ambiente propício para as competições aquáticas e triatlo, a água do Rio Sena teve até a presença da prefeita de Paris nadando em seu leito, antes da competição se iniciar. No entanto, as chuvas mudaram o cenário dos jogos logo nos primeiros dias, quando a condição da água piorou e até o triatlo foi adiado. Mesmo após a retomada das competições no local, atletas relataram problemas de saúde após práticas esportivas no Rio Sena. 

 

E a criticada por greenwashing, Coca- Cola que, em maio último, havia declarado que de 10 a 18 milhões de bebidas seriam servidas em embalagens sem plástico-de-uso-único, deixou de cumprir sua meta, e nem os 700 bebedouros instalados compensaram esse fiasco. Segundo a empresa, que foi patrocinadora, o desafio era adaptar-se às diversas condições dos variados locais onde o evento acontecia. Mesmo assim, segundo o Comitê Organizador das Olimpíadas em Paris, a meta de reduzir pela metade os plásticos-de-uso-único em relação aos Jogos de Londres de 2012, será atingida.

 

Nos Jogos Olímpicos de 2024, mesmo sem resolver toda a complexidade de ser sustentável nesta 33ª edição, a alta ambição para Paris aumentou as expectativas para que as futuras edições sejam cada vez mais sustentáveis. Que esse evento continue a unir corpos de água atléticos, e que ‘dê cada vez mais certo’, servindo de exemplo com propostas que ajudem a diminuir e barrar as mudanças climáticas.


Para saber mais: 

 

- Sustentabilidade nos Jogos Olímpicos de 2024

 

- Plataforma Sports For Nature

 

- Fernando Sabino (frases e crônicas)

  

- Conceito de ‘corpos de água’ na abordagem ecológica de Astrida Neimanis

Teórica cultural que trabalha na intersecção do feminismo e da mudança ambiental, sua investigação centra-se nos corpos, na água e no clima, e em como estes podem ajudar-nos a reimaginar a justiça, o cuidado, a responsabilidade e a relação no tempo da catástrofe climática. O seu mais recente livro, “Bodies of Water: Posthuman Feminist Phenomenology”, é um apelo para que os humanos examinem as suas relações com os oceanos, bacias hidrográficas e outras formas de vida aquática. A prática de investigação de Astrida inclui colaborações com artistas, escritores, cientistas, makers, instituições educacionais e comunidades, muitas vezes sob a forma de pedagogias públicas experimentais. Assista aqui. (inglês)


Sobre a autora:




Renata Pelegrini é formada em Letras e Educação pela Universidade de São Paulo e em Artes Plásticas pela Escola Panamericana de Artes. É membro da OceanUni, plataforma de cientistas, defensores ambientais e artistas baseada na Itália. Participa do Selvagem - ciclo de estudos sobre a vida:  saberes indígenas, acadêmicos, científicos, tradicionais e de outras espécies. Produz conteúdo para a Newsletter da Liga das Mulheres pelo Oceano.



Foto de capa: Amada MA no Unsplash



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